A resposta de
stress começa, em primeiro lugar com a avaliação que fazemos das situações.
Esta avaliação nem sempre acontece de forma consciente mas, sempre que estamos
perante um desafio ou uma situação nova, o que fazemos é avaliar os recuros que
possuímos e aqueles que a situação nos exige. Se o
peso das exigências for
maior que o dos recursos que possuimos então vão-se desencadear toda uma série
de respostas fisiológicas, a que Walter Cannon chamou Resposta de Luta ou Fuga
porque, justamente, parecem servir para cumprir o propósito de preparar o nosso
organismo para uma resposta rápida e o mais eficaz possível quando é preciso
lutar ou fugir. Esta resposta acontece nos seres humanos mas também nos animais
sempre que precisam de enfrentar um determinado perigo. Esta resposta prepara o
organismo para lidar da forma mais eficaz possível com as ameaças que possam
surgir e pode ser um mecanismo muito eficaz para lidar com algumas situações de
emergência. É este mecanismo que possibilita os relatos fantásticos que por
vezes ouvimos de mães que tiraram filhos de prédios a arder, ou de pessoas que
foram capazes de levantar um carro sozinhas para salvar um familiar que estava
preso debaixo dele. Estes feitos são possíveis apenas durante os instantes em
que esta resposta está activa graças a todas as modificações que ela provoca no
nosso organismo e que vamos ver quais são.
Esta resposta
começa no sistema nervoso, que tem como função controlar todas as actividades
automáticas essenciais para a sobrevivência e para manter a homeostase do
organismo, é o responsável pela orquestração desta resposta de alarne. Este
sistema divide-se em duas partes: o sistema nervoso simpático e o
parassimpático. O sistema nervoso simpático é o responsável pela activação e
pela manutenção da resposta de luta ou fuga e o sistema nervoso parassimpático
é aquele que é accionado quando decidimos que o perigo desapareceu e se torna
possível descansar, permitindo que o equilíbrio fisiológico se restaure e que
possa surgir uma sensação de relaxamento pela qual este sistema é o
responsável.
A primeira
parte do nosso corpo a reconhecer o perigo e a fazer soar o sinal de alarme é a
amígdala, uma estrutura certebral que faz parte do sistema límbico, a zona do
cérebro que, nos mamíferos, está relacionada com as emoções e os sentimentos. A
amígdala está relacionada com a nossa memória emocional e, ao que parece é a
estrutura responsável, pelo armazenamento de informação acerca daquilo que pode
ser perigoso para a nossa integridade. Então esta estrutura cerebral funciona
como uma espécie de alarme para todas as situações de medo e, juntamente com o
hipotálamo é uma das principais responsáveis pela activação da resposta de luta
ou fuga.
O hipotálamo,
juntamente com as estruturas que formam o sistema límbico, é um dos
responsáveis pelo controlo das emoções (Dobson, 1982, pg. 107). Então, assim
que a amígdala reconhece uma ameaça e faz soar o alarme, o hipotálamo vai fazer
com que todo o organismo entre no modo de defesa ou ataque. Através do controlo
que o hipotálamo tem sobre a glândula pituitária, este vai fazer com esta
segrege as hormonas que iraão servir para mediar as reacções de stress.
Podemos dizer
que o hipotálamo é uma espécie de mediador entre os pensamentos e as reacções
fisiológicas que, por sua vez, estão associadas a determinadas emoções.
Então, quando
experimentamos uma emoção de tensão, stress, ou ansiedade, dando início à
resposta de luta ou fuga, o Hipotálamo começa a segregar um elemento libertador
de corticotrofina (CRF) que regula a secreção da maior parte das hormonas
trópicas da glândula pituitária, estas são hormonas que actuam sobre outras
glândulas endócrinas e regulam as suas secreções. Então o CRF segue para a
glândula pituitária, para que esta comece a segregar a hormona adrenocorticotrópica
(ACTH) que é uma substância informadora, o que significa que irá ser
transportada pela corrente sanguínea até às glândulas supra-renais também
conhecidas por glândulas adrenais, levando-as a segregar glicocorticóides
(assim chamados porque aumentam os níveis de glicose no sangue) e hormonas
esteróides, das quais uma das mais importantes é o cortisol, também chamado de
hidrocortisona, que regula as funções cardiovasculares, metabólicas e
imunológicas.
Como esta
relação mente-corpo é bidireccional, também é possível verificar que, se forem
injectados na corrente sanguínea esteróides, isto faz também aumentar a
sensação de stress que a pessoa experiencia. Verifica-se também que as pessoas
deprimidas têm tipicamente níveis muito altos destes esteróides.
Mas qual o papel destas hormonas no nosso organismo?
Assim, existem três hormonas
principais na orquestração desta resposta em todo o organismo:
- Adrenalina: Libertada pela medula adrenal. Também conhecida como
epinefrina, esta hormona está mais associada à resposta de fuga, por isso é
libertada em maiores quantidades em situações com as quais nos sentimentos
incapazes de lidar, nas situações de Distress. A adrenalina é uma hormona que
está geralmente associada às sensações de medo, de incerteza, de preocupação,
insegurança e ansiedade.
Produz
um aumento da pressão arterial e mobiliza o glicogénio que se encontra nos
tecidos corporais. Causa a vasoconstrição da superfície corporal para minimizar
o sangramento em situações de emergência e é responsável pelo aumento do nível
de açúcar no sangue. Liberta ácidos gordos na corrente sanguínea que ajudam a
gerar a energia extra requerida. Se estes não forem usados irão permanecer no
corpo por um longo período de tempo.
Provoca um
aumento da frequência dos batimentos cardíacos e do volume de sangue bombeado
em cada batimento, o que, por sua vez, leva a um aumento da tensão arterial -
que traduz a pressão que o sangue exerce na parede das artérias e veias quando
passa por elas. Esta hormona também leva a um aumento dos níveis de açúcar no
sangue, para que haja mais energia disponível e leva a que o sangue seja
distribuído principalmente pelos músculos voluntários das pernas e braços,
sendo ainda a responsável pela contracção dos músculos necessários para fugir.
A adrenalina
também faz com que as gorduras sejam queimadas, para gerar energia. E é também
responsável por fazer com que haja uma diminuição da circulação sanguínea à
superfície (o que pode tornar a pessoa mais pálida; daí a expressão branca de medo) e dos órgãos do sistema
digestivo, aumentando o afluxo de sangue nos grandes músculos do corpo. Esta
hormona é ainda é responsável pela erecção dos pelos, um mecanismo que será
talvez herdado dos tempos do homem primitivo com o objectivo de lhe dar um ar
mais volumoso e ameaçador, à semelhança do que acontece, por exemplo, com o os
gorilas e outros primatas.
Noradrenalina – pode ser também chamada de norepinefrina e esta é
uma hormona produzida pela medula da glândula supra-renal, tal como a adrenalina
(mas funciona independentemente desta) mas que pode também ser segregada pelas
fibras nervosas, visto que é um dos principais neurotransmissores do sistema
nervoso. Ao contrário da adrenalina, esta está mais associada a uma reacção de
luta. Assim, a noradrenalina aparece mais nas situações de Eustress, aqueles
desafios com que nos sentimos capazes de lidar e está relacionada com todas as
sensações agradáveis que surgem nestas alturas, como uma certa euforia, por
exemplo. A concentração desta hormona no sangue aumenta também quando se faz
exercício físico e esta pode estar associada às sensações de bem-estar que
surgem depois de exercícios vigorosos. Alguns anti-depressivos têm o efeito de
estimular a sua produção, já que esta é uma hormona que se associa a um humor
positivo e, um défice na sua produção, está geralmente associado à depressão.
Estimular a libertação desta hormona poderá ser também uma das razões pelas
quais o exercício físico é uma boa forma de combater os estados depressivos.
Esta é uma hormona que parece também ter alguma relação com a capacidade de
atenção por isso, nas desordens do défice de atenção, alguns fármacos procuram
também estimular a sua produção.
A
noradrenalina tem ainda o efeito de provocar a dilatação das pupilas,
melhorando a nossa visão periférica e a visão nocturna e faz que com que haja
também uma dilatação das passagens do ar nos pulmões.
O aumento da concentração desta hormona no
sangue pode também, por vezes, estar associado a reacções mais agressivas e
está relacionada com a tensão nos músculos faciais, nos ombros e nos punhos
cerrados. A noradrenalina, tal como a adrenalina, também contribui para a
subida da tensão arterial e para o aumento do ritmo cardíaco. Também provoca
uma diminuição da circulação nos rins e no fígado.
Cortisol – É uma das hormonas mais importantes segregadas pelas
glândulas supra-renais, segundo Gabor Mate (2003) “o cortisol é a hormona mais
central para a resposta de stress e aquela que os estudos mostram que fica mais
desregulada depois do stress crónico.”
Uma
das suas funções é sensibilizar os órgãos para a adrenalina e noradrenalina.
Quando é segregada em quantidades normais, esta hormona tem o papel de
estimular a actividade do sistema imunitário mas, quando é despoletada a
Resposta de luta ou Fuga, os níveis de cortisol na corrente sanguínea aumentam
bastante e este passa a ter o efeito de inibir temporariamente o sistema
imunitário e de suprimir a resposta febril. Podemos perceber a utilidade desta
resposta se pensarmos, por exemplo, num homem primitivo contagiado pelo vírus
da gripe, deitado na sua gruta cheio de febre, que não é mais que uma resposta
do sistema imunitário, que aumenta a sua produção de glóbulos brancos para
eliminar o vírus reconhecido como uma potencial ameaça. De repente surge na
entrada dessa caverna um tigre e naquele momento, o organismo precisa de decidir
rapidamente qual é a ameaça maior: o vírus da gripe ou o tigre que o pode comer
a qualquer instante. Assim, a resposta febril é temporariamente suprimida, o
que significa que o homem poderá voltar a ter forças para fugir do tigre. Lipton
diz-nos que o sistema imunitário é o sistema que mais energia consome no nosso
organismo, assim para que esta energia possa ser canalizada para outras
funções, este sistema é dos primeiros a sofrer com o stress, sendo parcialmente
desactivado pelo cortisol.
O cortisol
também faz com que certos ácidos deixem de ser removidos da corrente sanguínea.
A libertação de cortisol na corrente sanguínea também faz com que seja desfeito
o tecido magro, para que este se converta em açúcar, como fonte de energia,
aumentando assim os níveis de açúcar no sangue. O cortisol, quando existe em
excesso na corrente sanguínea, também pode contribuir para uma alteração dos
padrões de sono, provocando insónias. Leva também a um aumento do apetite e da
ingestão calórica e faz com que a gordura se acumule principalmente na zona do
abdómen, do tronco e da face, locais onde esta será mais facilmente acessível
para o caso de ser preciso convertê-la em energia. De um ponto de vista psicológico o cortisol
está muito relacionado com os sentimentos de fracasso, de incapacidade, de
desespero, de ansiedade crónica e depressão.
O cortisol
também ajuda o sangue a coagular mais depressa o que, em caso de ferimentos,
poderá ser uma preciosa ajuda a sobrevivência, visto que diminuirá o tempo que
as feridas ficarão a sangrar.
Todas
estas reacções fisiológicas começam a acontecer assim que entramos naquilo a
que Hans Selye – um médico que se dedicou ao estudo desta resposta - chamou a Reacção de Alarme. Se se mantiver o
estímulo que provocou esta reacção entramos então, de acordo com Selye, na fase de Resistência em que estas
reacções irão manter-se pelo tempo que durar a ameaça.
È aqui que começam a surgir os problemas e, é nesta fase, que este mecanismo evolutivo que poderá ser útil em determinadas situações, pode começar a voltar-se contra nós levando-nos assim a entrar na Fase de Exaustão. Na verdade, quando estamos perante uma ameaça à nossa sobrevivência física é natural que estas respostas se dêem, levando-nos á reacção correspondente e, assim que esta ameaça desaparece, voltamos novamente a um estado de equilíbrio fisiológico. Podemos pensar no exemplo de alguém que atravessa uma estrada, de repente, surge um carro com que a pessoa não contava a grande velocidade e capaz de a atingir. A pessoa assusta-se, todo o seu corpo se mobiliza, os músculos contraem-se, o coração bate mais forte, a respiração fica mais rápida, os reflexos mais aguçados e a pessoa corre rapidamente para o passeio escapando assim por um triz. Durante os curtos segundos em que o seu corpo precisa de fugir acontecem muito rapidamente todas estas alterações mas, assim que chega ao passeio e se sente segura, em pouco tempo, o seu corpo desliga esta resposta de fuga e o equilíbrio é retomado sem grandes consequências, pelo menos no caso de uma pessoa saudável. Este mecanismo é provavelmente um dos responsáveis pelo facto das pessoas serem capazes de cometer os actos mais incríveis em situações de perigo, como mães que salvam os filhos de incêndios reagindo e movendo-se a velocidades impressionantes, ou pessoas capazes de levantarem pesos incríveis para salvarem os seus entes queridos em situações de acidentes, por exemplo; isto acontece porque realmente o nosso corpo, naqueles instantes, mobiliza todos os seus recursos para ser capaz de lidar com aquele acontecimento. Na verdade, sempre que é activada esta resposta de Luta ou Fuga, todos os nossos instintos ficam mais apurados.
È aqui que começam a surgir os problemas e, é nesta fase, que este mecanismo evolutivo que poderá ser útil em determinadas situações, pode começar a voltar-se contra nós levando-nos assim a entrar na Fase de Exaustão. Na verdade, quando estamos perante uma ameaça à nossa sobrevivência física é natural que estas respostas se dêem, levando-nos á reacção correspondente e, assim que esta ameaça desaparece, voltamos novamente a um estado de equilíbrio fisiológico. Podemos pensar no exemplo de alguém que atravessa uma estrada, de repente, surge um carro com que a pessoa não contava a grande velocidade e capaz de a atingir. A pessoa assusta-se, todo o seu corpo se mobiliza, os músculos contraem-se, o coração bate mais forte, a respiração fica mais rápida, os reflexos mais aguçados e a pessoa corre rapidamente para o passeio escapando assim por um triz. Durante os curtos segundos em que o seu corpo precisa de fugir acontecem muito rapidamente todas estas alterações mas, assim que chega ao passeio e se sente segura, em pouco tempo, o seu corpo desliga esta resposta de fuga e o equilíbrio é retomado sem grandes consequências, pelo menos no caso de uma pessoa saudável. Este mecanismo é provavelmente um dos responsáveis pelo facto das pessoas serem capazes de cometer os actos mais incríveis em situações de perigo, como mães que salvam os filhos de incêndios reagindo e movendo-se a velocidades impressionantes, ou pessoas capazes de levantarem pesos incríveis para salvarem os seus entes queridos em situações de acidentes, por exemplo; isto acontece porque realmente o nosso corpo, naqueles instantes, mobiliza todos os seus recursos para ser capaz de lidar com aquele acontecimento. Na verdade, sempre que é activada esta resposta de Luta ou Fuga, todos os nossos instintos ficam mais apurados.
Diz-nos Lipton
(2008) que as hormonas adrenais também provocam a contracção das veias na parte
da frente do nosso cérebro (limitando assim a sua capacidade de funcionar
eficazmente), que é responsável pela lógica e pela compreensão e que, por isso
mesmo, é muito mais lento do que as acções reflexas que são controladas pela
parte anterior do cérebro. De acordo com Lipton (2008) estas hormonas também
reprimem a actividade no córtex pré-frontal que é o centro da actividade
voluntária. Apesar de, em determinadas situações, isto poder ser útil para nos
ajudar a sobreviver “….vem com um custo: consciência perceptiva diminuída e
inteligência reduzida:” (Takamatsu, et al, 2003, Arnsten and Goldman-Rakic
1998; Goldstein, e tal, 1996, cit por Lipton, 2008, Pg, 120)
É por isto
que, em situações de perigo iminente todos os nossos instintos parecem ficar
mais apurados e somos capazes de tomar decisões muito rápidas quase sem pensar,
aliás, é também por isto que, muitas vezes, quando estamos em situações de
tensão e ansiedade não somos capazes de pensar logicamente em determinadas
questões e, no caso dos estudantes, por exemplo, por muito que se conheça o
tema em questão, por vezes, torna-se mesmo muito difícil se não impossível
pensar sobre ele.
Mas esta
capacidade de resposta que quase sempre desconhecemos em nós até precisarmos de
a usar, esta capacidade de usarmos de repente todos os nossos recursos físicos
e não só para sair de uma determinada situação perigosa para nós ou para
aqueles que nos são queridos, acontece a um preço: há um grande gasto
energético que precisa de ser reposto o mais rapidamente possível, com algum
tempo de repouso que permita ao organismo recuperar toda a energia que precisou
de gastar para lidar com aquele acontecimento.
Quando
as ameaças são de natureza física ou biológica, a maior parte das vezes, têm um
tempo limitado. Mas, no caso de ameaças de natureza psicológica, se não
fizermos nada para as eliminar, a sua presença pode tornar-se constante. Nestes
casos não haverá tempo para recuperar a energia consumida na sua defesa e então
o organismo entra naquilo a que Selye chamou a Fase de Exaustão, sendo aqui que
acontecem os verdadeiros danos para a nossa saúde. O que mais impressionou
Selye na investigação com os ratinhos que eram colocados em ambientes mais
frios do que aquele a que estavam adaptados foi que, mesmo que depois de algum
tempo os ratinhos fossem retirados desse ambiente, passando a estar em
condições mais favoráveis, com uma temperatura agradável e com comida
suficiente, os que tinham estado durante demasiado tempo no ambiente frio já
não eram capazes de sobreviver mesmo num ambiente de temperaturas favoráveis.
Era como se se tivessem esgotado já todas as reservas energéticas do seu
organismo. Assim Selye concluiu que o stress, quando prolongado por períodos
demasiado longos leva a um gasto de energia que o organismo poderá não ter como
repor. Para Selye a morte acontecia justamente porque determinados órgãos do
nosso corpo acabavam por entrar em desgaste devido às várias situações de
stress que iam sofrendo ao longo da vida.
Sabemos
também hoje em dia que o facto de vivermos sob uma tensão que se mantenha de
modo mais ou menos constante irá fazer com estas alterações fisiológicas se
mantenham ao longo do tempo. Assim uma coisa que em muitas investigações se observa
é que as pessoas deprimidas ou ansiosas, por exemplo, têm níveis
permanentemente elevados de cortisol na sua corrente sanguínea. Isto significa
que o organismo estará sempre a funcionar de uma forma que não corresponde a um
verdadeiro estado de equilíbrio. Um dos efeitos do cortisol, como já vimos, é a
supressão do sistema imunitário, então uma pessoa com níveis elevados de
cortisol na sua corrente sanguínea estará sempre muito mais sujeita a todo o
tipo de infecções ou de contágios, visto que o seu sistema imunitário não pode
funcionar normalmente. E isto é de facto observado em muitos estudos de
psiconeuroimunologia que mostram que existe realmente uma relação entre os
estados emocionais e o funcionamento do nosso sistema imunitário e que as pessoas
deprimidas ou ansiosas estão mais vezes doentes. Outro efeito do cortisol é o
impedimento da remoção de determinados ácidos da corrente sanguínea, o que irá
levar a um aumento de acidez no estômago que, com o tempo, pode mesmo levar à
formação de úlceras. Como já vimos, o cortisol também tem o papel de promover a
destruição do tecido magro, para que este se converta em açúcar, como fonte de
energia, aumentando assim os níveis de açúcar no sangue. Isto, para além de
poder levar a um quadro do Diabetes do tipo II, pode também contribuir para que
aconteçam perdas musculares além de que o cortisol inibe também a formação de
novas estruturas ósseas, de acordo com Gabor Mate, uma concentração excessiva
de cortisol durante muito tempo na corrente sanguínea, pode mesmo tornar os
ossos mais finos.
Quando o nosso
organismo está num estado de equilíbrio, o sangue está normalmente concentrado
na zona das vísceras, na cavidade abdominal onde se situam tantos órgãos
essenciais ao seu bom funcionamento. Quando esta a resposta de Luta ou Fuga é
activada e o sangue passa a ser desviado desta zona, os processos digestivos
passaram a fazer-se com maior dificuldade, o que significa que não estaremos a
absorver todos os nutrientes necessários, nem a eliminar convenientemente as
toxinas, o que, juntamente com o gasto de energia extra de que precisamos para
lidar com as ameaças constantes, nos fará sentir ainda mais cansados e
fragilizados.
O
funcionamento alterado do nosso sistema cardiovascular poderá também conduzir a
problemas de coração, e estados de hipertensão arterial o que, por sua vez,
poderá levar um quadro de arteriosclerose, um processo de endurecimento das
artérias que poderá por em risco a vida. Herbert Benson (2001), explica que a
arteriosclerose leva a que aconteça “um depósito de coágulos sanguíneos,
gorduras e cálcio nas paredes das artérias, fazendo com que as paredes,
normalmente moles, elásticas e abertas das artérias, se tornem duras,
inflexíveis e, parcialmente ou completamente bloqueadas:” (Benson, 2001, pg.
14). Este médico diz também que “O risco de se desenvolver arteriosclerose ou
endurecimento das artérias está directamente relacionado com o nível da pressão
arterial.” (Benson, 2001, pg. 21). Este endurecimento pode conduzir a doenças
cardíacas ou mesmo ataques cardíacos ou enfartes, ou a Acidentes
vascular-cerebrais (AVC) que podem levar a sérias limitações na qualidade de
vida e que, em muitos casos, levam mesmo á morte. Benson explica que: “….quanto
mais frequentemente activarmos a resposta de luta ou fuga, mais provável é que
desenvolvamos tensão arterial elevada, especialmente se as circunstâncias não
nos permitirem realmente lutar ou fugir.” (Benson, 2001, pg. 47) Isto, aliado ao efeito que o cortisol tem de fazer
com o sangue coagule mais facilmente, poderá ter um efeito altamente nocivo
para a nossa saúde.
Por outro lado
a tensão constante nos músculos das pernas e braços, sempre prontos para agir,
pode levar a dores musculares constantes que podem mesmo chegar a ser bastante
fortes.
As alterações
ao nível da respiração podem também levar a quadros de hiperventilação, que
produz sintomas semelhantes aos que experimentam os montanhistas em grandes
altitudes, como enjoos, náuseas, confusão mental, tonturas, cansaço, dores de
cabeça, Etc. Em situações de tensão, muitas vezes, temos também tendência para
respirar mais com a zona superior dos pulmões, o que significa que estaremos a
usar principalmente os músculos da zona do peito, que são músculos com um papel
apenas secundário na respiração, o que significa, que têm apenas um papel
auxiliar na respiração. Se os tornamos os principais músculos do processo
respiratório é muito provável que passem a surgir também dores musculares na
zona do peito e que aumente ainda mais a sensação de cansaço e falta de ar.
Na verdade
podemos não experimentar, pelo menos de forma consciente, todos estes sintomas.
O que acontece é que, quase sempre, há um dos nossos sistemas que acaba por ser
mais afectado pelos estados de activação constante e, por isso, é nesse que
sentimos mais os efeitos da tensão e stress. Assim, algumas pessoas podem ser
mais dadas a problemas cardiovasculares, por exemplo, outras pessoas poderão
sentir mais transtornos digestivos, para outras ainda será o aparelho
músculo-esquelético o mais afectado e por isso poderão surgir dores musculares
mais ou menos fortes, etc. Na verdade já Selye dizia que a morte acontecia
porque alguns órgãos acabavam por se desgastarem em relação a outros e, quando
a sua falência acontecia, se estes tivessem uma função vital, a morte seria a
última consequência desse desgaste.
Segundo
Lipton, um dos sistemas mais afectados pela activação da Resposta de Luta ou
Fuga é mesmo o sistema imunitário que é também um dos que mais energia consome
no nosso organismo e também um sistema que tem um papel essencial na nossa
qualidade de vida e na nossa capacidade de resposta ao meio ambiente. Este
autor explica que, a acção conjunta das hormonas libertadas pela glândula
adrenal é tão eficaz a suprimir a resposta do sistema imunitário que elas
chegam mesmo a ser receitadas a doentes transplantados, para impedir a rejeição
dos transplantes.
Candace Pert
também salienta a ligação entre o stress e predesposição para se ficar doente,
segunde esta, pode haver situações em que as emoções ficam como que bloqueadas,
como “Quando o stress impede as moléculas da emoção de fluírem livremente para
onde são precisas, os processos largamente autónomos que são regulados pela
corrente dos péptidos, como a respiração, a circulação sanguínea, a imunidade,
a digestão e a eliminação entram em colapso passando a apenas uns circuitos de
feedback e perturbam a resposta de cura normal.” (Pert, 1997, pg. 243) para
Pert, uma das formas de restabelecer este equilíbrio e deixar as emoções fluir
livremente outra vez era a meditação.
Tanto o yoga
como a meditação podem também ter o papel de nos fazer voltar a entrar em
contacto com as emoções e com o corpo para que possamos passar a estar mais
consciente dos sinais que este nos vai enviando.
Laura Sanches
Candace Pert (1997) - Molecules of Emotion
Hans Selye - The Stress of Life
Herbert Benson (2001) - The Relaxation Response