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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Reacções Primitivas num Mundo Moderno - A Resposta de Luta ou Fuga e os efeitos fisiológicos do Stress


A resposta de stress começa, em primeiro lugar com a avaliação que fazemos das situações. Esta avaliação nem sempre acontece de forma consciente mas, sempre que estamos perante um desafio ou uma situação nova, o que fazemos é avaliar os recuros que possuímos e aqueles que a situação nos exige. Se o
peso das exigências for maior que o dos recursos que possuimos então vão-se desencadear toda uma série de respostas fisiológicas, a que Walter Cannon chamou Resposta de Luta ou Fuga porque, justamente, parecem servir para cumprir o propósito de preparar o nosso organismo para uma resposta rápida e o mais eficaz possível quando é preciso lutar ou fugir. Esta resposta acontece nos seres humanos mas também nos animais sempre que precisam de enfrentar um determinado perigo. Esta resposta prepara o organismo para lidar da forma mais eficaz possível com as ameaças que possam surgir e pode ser um mecanismo muito eficaz para lidar com algumas situações de emergência. É este mecanismo que possibilita os relatos fantásticos que por vezes ouvimos de mães que tiraram filhos de prédios a arder, ou de pessoas que foram capazes de levantar um carro sozinhas para salvar um familiar que estava preso debaixo dele. Estes feitos são possíveis apenas durante os instantes em que esta resposta está activa graças a todas as modificações que ela provoca no nosso organismo e que vamos ver quais são.
Esta resposta começa no sistema nervoso, que tem como função controlar todas as actividades automáticas essenciais para a sobrevivência e para manter a homeostase do organismo, é o responsável pela orquestração desta resposta de alarne. Este sistema divide-se em duas partes: o sistema nervoso simpático e o parassimpático. O sistema nervoso simpático é o responsável pela activação e pela manutenção da resposta de luta ou fuga e o sistema nervoso parassimpático é aquele que é accionado quando decidimos que o perigo desapareceu e se torna possível descansar, permitindo que o equilíbrio fisiológico se restaure e que possa surgir uma sensação de relaxamento pela qual este sistema é o responsável.
A primeira parte do nosso corpo a reconhecer o perigo e a fazer soar o sinal de alarme é a amígdala, uma estrutura certebral que faz parte do sistema límbico, a zona do cérebro que, nos mamíferos, está relacionada com as emoções e os sentimentos. A amígdala está relacionada com a nossa memória emocional e, ao que parece é a estrutura responsável, pelo armazenamento de informação acerca daquilo que pode ser perigoso para a nossa integridade. Então esta estrutura cerebral funciona como uma espécie de alarme para todas as situações de medo e, juntamente com o hipotálamo é uma das principais responsáveis pela activação da resposta de luta ou fuga.
O hipotálamo, juntamente com as estruturas que formam o sistema límbico, é um dos responsáveis pelo controlo das emoções (Dobson, 1982, pg. 107). Então, assim que a amígdala reconhece uma ameaça e faz soar o alarme, o hipotálamo vai fazer com que todo o organismo entre no modo de defesa ou ataque. Através do controlo que o hipotálamo tem sobre a glândula pituitária, este vai fazer com esta segrege as hormonas que iraão servir para mediar as reacções de stress.
Podemos dizer que o hipotálamo é uma espécie de mediador entre os pensamentos e as reacções fisiológicas que, por sua vez, estão associadas a determinadas emoções.
Então, quando experimentamos uma emoção de tensão, stress, ou ansiedade, dando início à resposta de luta ou fuga, o Hipotálamo começa a segregar um elemento libertador de corticotrofina (CRF) que regula a secreção da maior parte das hormonas trópicas da glândula pituitária, estas são hormonas que actuam sobre outras glândulas endócrinas e regulam as suas secreções. Então o CRF segue para a glândula pituitária, para que esta comece a segregar a hormona adrenocorticotrópica (ACTH) que é uma substância informadora, o que significa que irá ser transportada pela corrente sanguínea até às glândulas supra-renais também conhecidas por glândulas adrenais, levando-as a segregar glicocorticóides (assim chamados porque aumentam os níveis de glicose no sangue) e hormonas esteróides, das quais uma das mais importantes é o cortisol, também chamado de hidrocortisona, que regula as funções cardiovasculares, metabólicas e imunológicas.
Como esta relação mente-corpo é bidireccional, também é possível verificar que, se forem injectados na corrente sanguínea esteróides, isto faz também aumentar a sensação de stress que a pessoa experiencia. Verifica-se também que as pessoas deprimidas têm tipicamente níveis muito altos destes esteróides.

Mas qual o papel destas hormonas no nosso organismo?

Assim, existem três hormonas principais na orquestração desta resposta em todo o organismo:

- Adrenalina: Libertada pela medula adrenal. Também conhecida como epinefrina, esta hormona está mais associada à resposta de fuga, por isso é libertada em maiores quantidades em situações com as quais nos sentimentos incapazes de lidar, nas situações de Distress. A adrenalina é uma hormona que está geralmente associada às sensações de medo, de incerteza, de preocupação, insegurança e ansiedade.
            Produz um aumento da pressão arterial e mobiliza o glicogénio que se encontra nos tecidos corporais. Causa a vasoconstrição da superfície corporal para minimizar o sangramento em situações de emergência e é responsável pelo aumento do nível de açúcar no sangue. Liberta ácidos gordos na corrente sanguínea que ajudam a gerar a energia extra requerida. Se estes não forem usados irão permanecer no corpo por um longo período de tempo.
Provoca um aumento da frequência dos batimentos cardíacos e do volume de sangue bombeado em cada batimento, o que, por sua vez, leva a um aumento da tensão arterial - que traduz a pressão que o sangue exerce na parede das artérias e veias quando passa por elas. Esta hormona também leva a um aumento dos níveis de açúcar no sangue, para que haja mais energia disponível e leva a que o sangue seja distribuído principalmente pelos músculos voluntários das pernas e braços, sendo ainda a responsável pela contracção dos músculos necessários para fugir.
A adrenalina também faz com que as gorduras sejam queimadas, para gerar energia. E é também responsável por fazer com que haja uma diminuição da circulação sanguínea à superfície (o que pode tornar a pessoa mais pálida; daí a expressão branca de medo) e dos órgãos do sistema digestivo, aumentando o afluxo de sangue nos grandes músculos do corpo. Esta hormona é ainda é responsável pela erecção dos pelos, um mecanismo que será talvez herdado dos tempos do homem primitivo com o objectivo de lhe dar um ar mais volumoso e ameaçador, à semelhança do que acontece, por exemplo, com o os gorilas e outros primatas.

Noradrenalina – pode ser também chamada de norepinefrina e esta é uma hormona produzida pela medula da glândula supra-renal, tal como a adrenalina (mas funciona independentemente desta) mas que pode também ser segregada pelas fibras nervosas, visto que é um dos principais neurotransmissores do sistema nervoso. Ao contrário da adrenalina, esta está mais associada a uma reacção de luta. Assim, a noradrenalina aparece mais nas situações de Eustress, aqueles desafios com que nos sentimos capazes de lidar e está relacionada com todas as sensações agradáveis que surgem nestas alturas, como uma certa euforia, por exemplo. A concentração desta hormona no sangue aumenta também quando se faz exercício físico e esta pode estar associada às sensações de bem-estar que surgem depois de exercícios vigorosos. Alguns anti-depressivos têm o efeito de estimular a sua produção, já que esta é uma hormona que se associa a um humor positivo e, um défice na sua produção, está geralmente associado à depressão. Estimular a libertação desta hormona poderá ser também uma das razões pelas quais o exercício físico é uma boa forma de combater os estados depressivos. Esta é uma hormona que parece também ter alguma relação com a capacidade de atenção por isso, nas desordens do défice de atenção, alguns fármacos procuram também estimular a sua produção.
A noradrenalina tem ainda o efeito de provocar a dilatação das pupilas, melhorando a nossa visão periférica e a visão nocturna e faz que com que haja também uma dilatação das passagens do ar nos pulmões.
 O aumento da concentração desta hormona no sangue pode também, por vezes, estar associado a reacções mais agressivas e está relacionada com a tensão nos músculos faciais, nos ombros e nos punhos cerrados. A noradrenalina, tal como a adrenalina, também contribui para a subida da tensão arterial e para o aumento do ritmo cardíaco. Também provoca uma diminuição da circulação nos rins e no fígado.

Cortisol – É uma das hormonas mais importantes segregadas pelas glândulas supra-renais, segundo Gabor Mate (2003) “o cortisol é a hormona mais central para a resposta de stress e aquela que os estudos mostram que fica mais desregulada depois do stress crónico.”
            Uma das suas funções é sensibilizar os órgãos para a adrenalina e noradrenalina. Quando é segregada em quantidades normais, esta hormona tem o papel de estimular a actividade do sistema imunitário mas, quando é despoletada a Resposta de luta ou Fuga, os níveis de cortisol na corrente sanguínea aumentam bastante e este passa a ter o efeito de inibir temporariamente o sistema imunitário e de suprimir a resposta febril. Podemos perceber a utilidade desta resposta se pensarmos, por exemplo, num homem primitivo contagiado pelo vírus da gripe, deitado na sua gruta cheio de febre, que não é mais que uma resposta do sistema imunitário, que aumenta a sua produção de glóbulos brancos para eliminar o vírus reconhecido como uma potencial ameaça. De repente surge na entrada dessa caverna um tigre e naquele momento, o organismo precisa de decidir rapidamente qual é a ameaça maior: o vírus da gripe ou o tigre que o pode comer a qualquer instante. Assim, a resposta febril é temporariamente suprimida, o que significa que o homem poderá voltar a ter forças para fugir do tigre. Lipton diz-nos que o sistema imunitário é o sistema que mais energia consome no nosso organismo, assim para que esta energia possa ser canalizada para outras funções, este sistema é dos primeiros a sofrer com o stress, sendo parcialmente desactivado pelo cortisol.
O cortisol também faz com que certos ácidos deixem de ser removidos da corrente sanguínea. A libertação de cortisol na corrente sanguínea também faz com que seja desfeito o tecido magro, para que este se converta em açúcar, como fonte de energia, aumentando assim os níveis de açúcar no sangue. O cortisol, quando existe em excesso na corrente sanguínea, também pode contribuir para uma alteração dos padrões de sono, provocando insónias. Leva também a um aumento do apetite e da ingestão calórica e faz com que a gordura se acumule principalmente na zona do abdómen, do tronco e da face, locais onde esta será mais facilmente acessível para o caso de ser preciso convertê-la em energia. De um ponto de vista psicológico o cortisol está muito relacionado com os sentimentos de fracasso, de incapacidade, de desespero, de ansiedade crónica e depressão.
O cortisol também ajuda o sangue a coagular mais depressa o que, em caso de ferimentos, poderá ser uma preciosa ajuda a sobrevivência, visto que diminuirá o tempo que as feridas ficarão a sangrar.

            Todas estas reacções fisiológicas começam a acontecer assim que entramos naquilo a que Hans Selye – um médico que se dedicou ao estudo desta resposta - chamou a Reacção de Alarme. Se se mantiver o estímulo que provocou esta reacção entramos então, de acordo com Selye, na fase de Resistência em que estas reacções irão manter-se pelo tempo que durar a ameaça.
È aqui que começam a surgir os problemas e, é nesta fase, que este mecanismo evolutivo que poderá ser útil em determinadas situações, pode começar a voltar-se contra nós levando-nos assim a entrar na Fase de Exaustão. Na verdade, quando estamos perante uma ameaça à nossa sobrevivência física é natural que estas respostas se dêem, levando-nos á reacção correspondente e, assim que esta ameaça desaparece, voltamos novamente a um estado de equilíbrio fisiológico. Podemos pensar no exemplo de alguém que atravessa uma estrada, de repente, surge um carro com que a pessoa não contava a grande velocidade e capaz de a atingir. A pessoa assusta-se, todo o seu corpo se mobiliza, os músculos contraem-se, o coração bate mais forte, a respiração fica mais rápida, os reflexos mais aguçados e a pessoa corre rapidamente para o passeio escapando assim por um triz. Durante os curtos segundos em que o seu corpo precisa de fugir acontecem muito rapidamente todas estas alterações mas, assim que chega ao passeio e se sente segura, em pouco tempo, o seu corpo desliga esta resposta de fuga e o equilíbrio é retomado sem grandes consequências, pelo menos no caso de uma pessoa saudável. Este mecanismo é provavelmente um dos responsáveis pelo facto das pessoas serem capazes de cometer os actos mais incríveis em situações de perigo, como mães que salvam os filhos de incêndios reagindo e movendo-se a velocidades impressionantes, ou pessoas capazes de levantarem pesos incríveis para salvarem os seus entes queridos em situações de acidentes, por exemplo; isto acontece porque realmente o nosso corpo, naqueles instantes, mobiliza todos os seus recursos para ser capaz de lidar com aquele acontecimento. Na verdade, sempre que é activada esta resposta de Luta ou Fuga, todos os nossos instintos ficam mais apurados.
Diz-nos Lipton (2008) que as hormonas adrenais também provocam a contracção das veias na parte da frente do nosso cérebro (limitando assim a sua capacidade de funcionar eficazmente), que é responsável pela lógica e pela compreensão e que, por isso mesmo, é muito mais lento do que as acções reflexas que são controladas pela parte anterior do cérebro. De acordo com Lipton (2008) estas hormonas também reprimem a actividade no córtex pré-frontal que é o centro da actividade voluntária. Apesar de, em determinadas situações, isto poder ser útil para nos ajudar a sobreviver “….vem com um custo: consciência perceptiva diminuída e inteligência reduzida:” (Takamatsu, et al, 2003, Arnsten and Goldman-Rakic 1998; Goldstein, e tal, 1996, cit por Lipton, 2008, Pg, 120)

É por isto que, em situações de perigo iminente todos os nossos instintos parecem ficar mais apurados e somos capazes de tomar decisões muito rápidas quase sem pensar, aliás, é também por isto que, muitas vezes, quando estamos em situações de tensão e ansiedade não somos capazes de pensar logicamente em determinadas questões e, no caso dos estudantes, por exemplo, por muito que se conheça o tema em questão, por vezes, torna-se mesmo muito difícil se não impossível pensar sobre ele.
Mas esta capacidade de resposta que quase sempre desconhecemos em nós até precisarmos de a usar, esta capacidade de usarmos de repente todos os nossos recursos físicos e não só para sair de uma determinada situação perigosa para nós ou para aqueles que nos são queridos, acontece a um preço: há um grande gasto energético que precisa de ser reposto o mais rapidamente possível, com algum tempo de repouso que permita ao organismo recuperar toda a energia que precisou de gastar para lidar com aquele acontecimento.
            Quando as ameaças são de natureza física ou biológica, a maior parte das vezes, têm um tempo limitado. Mas, no caso de ameaças de natureza psicológica, se não fizermos nada para as eliminar, a sua presença pode tornar-se constante. Nestes casos não haverá tempo para recuperar a energia consumida na sua defesa e então o organismo entra naquilo a que Selye chamou a Fase de Exaustão, sendo aqui que acontecem os verdadeiros danos para a nossa saúde. O que mais impressionou Selye na investigação com os ratinhos que eram colocados em ambientes mais frios do que aquele a que estavam adaptados foi que, mesmo que depois de algum tempo os ratinhos fossem retirados desse ambiente, passando a estar em condições mais favoráveis, com uma temperatura agradável e com comida suficiente, os que tinham estado durante demasiado tempo no ambiente frio já não eram capazes de sobreviver mesmo num ambiente de temperaturas favoráveis. Era como se se tivessem esgotado já todas as reservas energéticas do seu organismo. Assim Selye concluiu que o stress, quando prolongado por períodos demasiado longos leva a um gasto de energia que o organismo poderá não ter como repor. Para Selye a morte acontecia justamente porque determinados órgãos do nosso corpo acabavam por entrar em desgaste devido às várias situações de stress que iam sofrendo ao longo da vida.
            Sabemos também hoje em dia que o facto de vivermos sob uma tensão que se mantenha de modo mais ou menos constante irá fazer com estas alterações fisiológicas se mantenham ao longo do tempo. Assim uma coisa que em muitas investigações se observa é que as pessoas deprimidas ou ansiosas, por exemplo, têm níveis permanentemente elevados de cortisol na sua corrente sanguínea. Isto significa que o organismo estará sempre a funcionar de uma forma que não corresponde a um verdadeiro estado de equilíbrio. Um dos efeitos do cortisol, como já vimos, é a supressão do sistema imunitário, então uma pessoa com níveis elevados de cortisol na sua corrente sanguínea estará sempre muito mais sujeita a todo o tipo de infecções ou de contágios, visto que o seu sistema imunitário não pode funcionar normalmente. E isto é de facto observado em muitos estudos de psiconeuroimunologia que mostram que existe realmente uma relação entre os estados emocionais e o funcionamento do nosso sistema imunitário e que as pessoas deprimidas ou ansiosas estão mais vezes doentes. Outro efeito do cortisol é o impedimento da remoção de determinados ácidos da corrente sanguínea, o que irá levar a um aumento de acidez no estômago que, com o tempo, pode mesmo levar à formação de úlceras. Como já vimos, o cortisol também tem o papel de promover a destruição do tecido magro, para que este se converta em açúcar, como fonte de energia, aumentando assim os níveis de açúcar no sangue. Isto, para além de poder levar a um quadro do Diabetes do tipo II, pode também contribuir para que aconteçam perdas musculares além de que o cortisol inibe também a formação de novas estruturas ósseas, de acordo com Gabor Mate, uma concentração excessiva de cortisol durante muito tempo na corrente sanguínea, pode mesmo tornar os ossos mais finos.
Quando o nosso organismo está num estado de equilíbrio, o sangue está normalmente concentrado na zona das vísceras, na cavidade abdominal onde se situam tantos órgãos essenciais ao seu bom funcionamento. Quando esta a resposta de Luta ou Fuga é activada e o sangue passa a ser desviado desta zona, os processos digestivos passaram a fazer-se com maior dificuldade, o que significa que não estaremos a absorver todos os nutrientes necessários, nem a eliminar convenientemente as toxinas, o que, juntamente com o gasto de energia extra de que precisamos para lidar com as ameaças constantes, nos fará sentir ainda mais cansados e fragilizados.
O funcionamento alterado do nosso sistema cardiovascular poderá também conduzir a problemas de coração, e estados de hipertensão arterial o que, por sua vez, poderá levar um quadro de arteriosclerose, um processo de endurecimento das artérias que poderá por em risco a vida. Herbert Benson (2001), explica que a arteriosclerose leva a que aconteça “um depósito de coágulos sanguíneos, gorduras e cálcio nas paredes das artérias, fazendo com que as paredes, normalmente moles, elásticas e abertas das artérias, se tornem duras, inflexíveis e, parcialmente ou completamente bloqueadas:” (Benson, 2001, pg. 14). Este médico diz também que “O risco de se desenvolver arteriosclerose ou endurecimento das artérias está directamente relacionado com o nível da pressão arterial.” (Benson, 2001, pg. 21). Este endurecimento pode conduzir a doenças cardíacas ou mesmo ataques cardíacos ou enfartes, ou a Acidentes vascular-cerebrais (AVC) que podem levar a sérias limitações na qualidade de vida e que, em muitos casos, levam mesmo á morte. Benson explica que: “….quanto mais frequentemente activarmos a resposta de luta ou fuga, mais provável é que desenvolvamos tensão arterial elevada, especialmente se as circunstâncias não nos permitirem realmente lutar ou fugir.” (Benson, 2001, pg. 47)  Isto, aliado ao efeito que o cortisol tem de fazer com o sangue coagule mais facilmente, poderá ter um efeito altamente nocivo para a nossa saúde.
Por outro lado a tensão constante nos músculos das pernas e braços, sempre prontos para agir, pode levar a dores musculares constantes que podem mesmo chegar a ser bastante fortes.
As alterações ao nível da respiração podem também levar a quadros de hiperventilação, que produz sintomas semelhantes aos que experimentam os montanhistas em grandes altitudes, como enjoos, náuseas, confusão mental, tonturas, cansaço, dores de cabeça, Etc. Em situações de tensão, muitas vezes, temos também tendência para respirar mais com a zona superior dos pulmões, o que significa que estaremos a usar principalmente os músculos da zona do peito, que são músculos com um papel apenas secundário na respiração, o que significa, que têm apenas um papel auxiliar na respiração. Se os tornamos os principais músculos do processo respiratório é muito provável que passem a surgir também dores musculares na zona do peito e que aumente ainda mais a sensação de cansaço e falta de ar.
Na verdade podemos não experimentar, pelo menos de forma consciente, todos estes sintomas. O que acontece é que, quase sempre, há um dos nossos sistemas que acaba por ser mais afectado pelos estados de activação constante e, por isso, é nesse que sentimos mais os efeitos da tensão e stress. Assim, algumas pessoas podem ser mais dadas a problemas cardiovasculares, por exemplo, outras pessoas poderão sentir mais transtornos digestivos, para outras ainda será o aparelho músculo-esquelético o mais afectado e por isso poderão surgir dores musculares mais ou menos fortes, etc. Na verdade já Selye dizia que a morte acontecia porque alguns órgãos acabavam por se desgastarem em relação a outros e, quando a sua falência acontecia, se estes tivessem uma função vital, a morte seria a última consequência desse desgaste.
Segundo Lipton, um dos sistemas mais afectados pela activação da Resposta de Luta ou Fuga é mesmo o sistema imunitário que é também um dos que mais energia consome no nosso organismo e também um sistema que tem um papel essencial na nossa qualidade de vida e na nossa capacidade de resposta ao meio ambiente. Este autor explica que, a acção conjunta das hormonas libertadas pela glândula adrenal é tão eficaz a suprimir a resposta do sistema imunitário que elas chegam mesmo a ser receitadas a doentes transplantados, para impedir a rejeição dos transplantes.
Candace Pert também salienta a ligação entre o stress e predesposição para se ficar doente, segunde esta, pode haver situações em que as emoções ficam como que bloqueadas, como “Quando o stress impede as moléculas da emoção de fluírem livremente para onde são precisas, os processos largamente autónomos que são regulados pela corrente dos péptidos, como a respiração, a circulação sanguínea, a imunidade, a digestão e a eliminação entram em colapso passando a apenas uns circuitos de feedback e perturbam a resposta de cura normal.” (Pert, 1997, pg. 243) para Pert, uma das formas de restabelecer este equilíbrio e deixar as emoções fluir livremente outra vez era a meditação.
Tanto o yoga como a meditação podem também ter o papel de nos fazer voltar a entrar em contacto com as emoções e com o corpo para que possamos passar a estar mais consciente dos sinais que este nos vai enviando.

Laura Sanches

 Bibliografia 

Bruce Lipton (2008) - The Biology of Belief 

Candace Pert (1997) - Molecules of Emotion

Gabor Maté (2003) - When the Body Says No

Hans Selye - The Stress of Life

Herbert Benson (2001) - The Relaxation Response