Nas minhas
aulas de Yoga digo muitas vezes aos alunos para estarem atentos aos sinais
do seu corpo e respeitarem os seus limites e, há dias, tomei consciência de que
esta referência aos limites é, quase sempre, encarada de uma forma negativa na
maior parte dos contextos. Não gostamos muito que nos lembrem que temos limites
e, muitas vezes nas aulas de Yoga, é incentivada a ideia de que podemos sempre
ultrapassar os nossos limites levando o corpo a fazer coisas que nunca
imaginámos serem possíveis. É verdade que à medida que vamos praticando com
regularidade vamos ficando mais em forma e - partindo do princípio que temos
uma prática equilibrada - vamos ganhando mais flexibilidade e força que nos
permitem ir mais longe do que quando começámos. Mas também é verdade que, por
muito que fiquemos em forma, existem sempre limites que nunca poderemos
ultrapassar. Paul Grilley chama a atenção para o facto de existirem no nosso
corpo os chamados pontos de compressão que nos impedem de fazer certas posições
por mais que nos esforçemos. Estes pontos de compressão são diferentes para
todas as pessoas, para ter uma ideia do que estes implicam, pode experimentar
pôr-se na posição de cocóras com os pés unidos e verificar se consegue colocar
toda a planta do pé no chão ou apenas a parte da frente. São justamente os
pontos de compressão - da articulação do tornozelo, neste caso – que permitem
ou impedem o pé de ficar totalmente em contacto com o chão. Nesta posição o
facto de sermos capazes de colocar a planta do pé totalmente no chão, não
depende tanto da flexibilidade como dos tais pontos de compressão que são zonas
onde os ossos da articulação se tocam impedindo que haja uma maior amplitude de
movimentos. Isto quer dizer que até podemos melhorar um pouco a flexibilidade dos músculos envolvidos na posição, mas nunca passaremos dos limites que nos são permitidos pelos nossos pontos de compressão. No ballet, por exemplo, quando as crianças começam a dançar os professores, ao fim de pouco tempo, são capazes de distinguir aquelas que podem continuar e investir num percurso profissional daquelas que têm um tipo de corpo que nunca lhes permitirá ser bailarinos profissionais. Uma criança que faça ballet a sério há algum tempo e que não consiga fazer a espargata, por exemplo, é posta de parte porque se sabe que, por muito que trabalhe, nunca virá a ser capaz de a fazer.
movimentos. Isto quer dizer que até podemos melhorar um pouco a flexibilidade dos músculos envolvidos na posição, mas nunca passaremos dos limites que nos são permitidos pelos nossos pontos de compressão. No ballet, por exemplo, quando as crianças começam a dançar os professores, ao fim de pouco tempo, são capazes de distinguir aquelas que podem continuar e investir num percurso profissional daquelas que têm um tipo de corpo que nunca lhes permitirá ser bailarinos profissionais. Uma criança que faça ballet a sério há algum tempo e que não consiga fazer a espargata, por exemplo, é posta de parte porque se sabe que, por muito que trabalhe, nunca virá a ser capaz de a fazer.
Para além
destes pontos de compressão, existem outros limites naturais para o nosso corpo
em função do tipo de vida que levamos, da idade, da saúde, do género, etc.
Então porque é
que temos tanta dificuldade em aceitar que o nosso corpo tem limites? E porque
é que estes têm tendência para ser vistos como algo de negativo?
E, do ponto de
vista da saúde psicológica, é importante também sermos capazes de aprender a
deixar de lado as metas, os objectivos que estamos tão habituados a impor a
nós mesmos no dia-a-dia. É importante sermos capazes de deixar fora da sala a
atitude de ginásio, de quem quer ir sempre mais longe, de quem quer fazer
melhor porque, se procuramos o Yoga como uma prática que nos ajude a crescer, a
ser mais felizes e a relaxar verdadeiramente então é fundamental que a usemos
para aprender a aceitar: a aceitar o nosso corpo tal como ele é, não como
gostaríamos que fosse. Aceitar os nossos limites e abraçá-los como algo de
precioso que nos pode ensinar a estar presentes de outro modo, que nos pode
ensinar a conhecermo-nos de forma mais profunda e completa. E abraçar os nossos
limites como uma parte integrante de quem somos e de onde estamos,
agradecendo-lhes por essa informação preciosa que nos dão se estivermos
dispostos a ouvi-la. Só através dessa aceitação é que um dia poderemos
verdadeiramente transcender os nossos limites, não de um ponto de vista físico
(porque o nosso corpo estará para sempre sujeito às leis da física) mas de
um ponto de vista mental ou espiritual que é o que verdadeiramente conta.
Laura Sanches