segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Yoga e Escoliose

A palavra escoliose tem a sua raiz no grego “Skolios” que significa curvado, sinuoso. 
O problema surge com a curva lateral da coluna por causa da estrutura das vértebras, esta flexão lateral traz associada uma torção ou rotação da coluna vertebral.
Escoliose
A Escoliose está presente em cada vez mais pessoas e numa idade cada vez mais precoce, podendo ter uma origem estrutural, mas na maior parte das vezes, tem uma causa funcional, fruto das experiências (físicas e mentais) e dos comportamentos da pessoa.
Esta pode ser degenerativa, ou idiopática onde se desconhecem as causas, sendo esta última a causa mais frequente.

Em primeiro lugar devemos ter em atenção que é muito difícil modificar o ângulo da coluna vertebral, porém muitos exercícios são feitos como forma de atenuar o desconforto e de impedir um agravamento da condição. Quanto mais cedo se procurar fazer exercícios adequados melhor, pois os resultados apontam para um maior sucesso nos adolescentes. Em alguns países a existências de escoliose é idêntica nos dois géneros até aos 4 anos de idade, mas a partir daí o ratio fica de 8:1 com maior incidência nas raparigas, principalmente pela rápida evolução nas mulheres fruto da sua maior flexibilidade, pela gravidez, pela menopausa (Laxidão ligamentar).

A chave da escoliose encontra-se na coluna vertebral, mas devemos numa primeira fase reparar no sacro, que funciona na engenharia dos tempos românicos como o arco romano. A última pedra do topo do arco é que dava estabilidade aos dois lados do arco e com isto conseguia manter o topo.
Arco Romano

Podemos identificar como os dois lados do sacro, os ossos ilíacos e as pernas, ajudando depois a suster a coluna vertebral e todos os orgãos superiores. Podemos assim visualizar a estrutura de base, pernas e bacia, através de qual se eleva a coluna vertebral, e através desta os vários elementos tênseis, uma espécie de rede de elementos que proporcionam mobilidade e estabilidade e que partem do seu centro a coluna. Os tecidos moles respondem sempre ao movimento, e se esses cabos são mais forte de uma lado do que do outro, devido aos tipos de movimentos que fazemos, o corpo inclina-se, criando uma lado mais forte (o que não significa bom) do que outro que é o côncavo.

Na curva lateral da escoliose o lado côncavo (o mais encurtado) tende a rodar à frente (anteriormente) na direcção frontal do corpo, e por sua vez o lado convexo (longo) tende a rodar posteriormente, para a parte de trás do corpo, criando um alto mais proeminente enquanto a omoplata tende a abduzir , afastando-se da coluna.

Existem diferentes tipos de escoliose, de uma, duas, três ou mesmo quatro curvas,  com diferentes tipos de torção associadas, com maior ou menor grau de inclinação, o que fará com que os sintomas variem de pessoa para pessoa.

As consequências destas condições estendem-se para lá dos efeitos sobre a coluna, pelo facto das costelas estarem ligadas às vértebras e por se moverem com a coluna, acabando por ter um efeito também sobre a cintura escapular. Os efeitos das mudanças na coluna e nas costelas podem produzir compressão nos orgãos internos em particular no coração e nos pulmões, que tende a agravar-se, pois a mudança na estrutura óssea, altera também o tónus muscular, o que por sua vez aumenta a pressão nessa mesma estrutura provocando um acentuar na curva e na torção da coluna e caixa torácica.

A escoliose também acaba por afectar a posição dos quadris mudando o centro de gravidade do corpo, sendo este um dos aspectos mais desafiantes no trabalho do yoga, o conseguir trazer o corpo para o seu verdadeiro centro gravítico. A escoliose relaciona-se sempre com a musculatura e com o tipo de massa óssea da pessoa.
A melhor forma de diagnosticar uma escoliose com certeza no ângulo de inclinação é através das radiografias, porém existem outros métodos de avaliação como o método Cobb de uma forma mais directa ou geométrica, ou através do teste de Adam (Fig.3) tendo este uma melhor avaliação através do toque.
Fig.3 Adam Test


Quando existe mais de uma curva e não se sabe qual delas surgiu primeiro, normalmente a forma de actuar é perante a 1º curva, pois actuando sobre esta  acabamos por obter bons resultados também sobre a segunda curva.

O yoga pode desempenhar um papel muito positivo no alívio dos efeitos da condição, quer no retardar da sua evolução quer na correcção dos desalinhamentos dos quadris e cintura escapular.

Recentemente alguns estudos apontam para um asana  que tem obtido muito bons resultados na diminuição desses desvios escolióticos (na primeira curva) como é o caso do Vashistasana (Fig. 4), mas com diferentes apoios e tendo em atenção vários aspectos de correcção do asana e as limitações de cada praticante, e apenas com o lado convexo para baixo. 
Vasisthasana


Porém a prática de yoga feita de uma forma em que não leva em conta a pessoa e as suas condicionantes pode ter um efeito adverso, agravando ainda mais a escoliose.

Alguns dos princípios que devem estar presentes na prática de yoga nestes casos são os seguintes:


  • Recorrer a muitas  posições de pé para trabalhar os pés as pernas e torção para os músculos dos ombros. Estas posições de equilíbrio são também  importantes para se trabalharem as ancas, fortalecendo-as. É essencial um trabalho de correcção e de alinhamento, dos pés, tornozelos, joelhos e quadris.


  • Deve também ser trabalhado  o alongamento da musculatura isquiotibial, a musculatura posterior das coxas.


  • Insistir em asanas que ajudem a libertar os iliopsoas (musculatura da região lombar até à zonas internas das coxas), ajudando a fortalecer o lado oposto ao mais forte, ajudando também a libertar a pressão da excessiva lordose lombar que normalmente também encontramos nos casos de escoliose.


  • Insistir no Mula Bandha (acção do pavilhão pélvico) com estiramento dos Multifidus (pequenos músculos entre as vértebras).


  • Trabalhar a força abdominal  e os gluteos médios e máximos.


  • Encontramos assimetrias nas vértebras por causa do movimento das costelas, como é muito difícil modificar as vértebras, temos de trabalhar os músculos das costas, uma vez mais, tendo em atenção o alinhamento do corpo. Fazer o exercício da cobra (com muito cuidado) com movimento para o lado convexo, ou o asana do gafanhoto elevando mais o lado côncavo de uma forma muito moderada.


  • Fortalecer a musculatura das costas os quadratus lumborum (das últimas costelas até  ao topo dos ilíacos), ou os latissimus dorsi (das vértebras até ao úmero dos braços), que participam tanto no processo da respiração (musculatura secundária), como na flexão lateral da região lombar, assim  como na extensão da coluna.


  • Trabalhar sempre o estiramento através da coluna, tendo em atenção que as extensões nestes casos costumam ser más pois as pessoas que sofrem de escoliose geralmente já têm lordoses, e estas podem acentuar também a torção que geralmente já existe.


  • Usar exercícios de torção em cadeira para o lado côncavo, alongando o lado curto, tendo sempre presente que se deve trabalhar o fortalecimento muscular mais do que o alongamento.


  • Devemos ter muita atenção ao processo respiratório pois quando uma pessoa com escoliose respira de forma profunda agrava a condição (acentuando os desequilíbrios já existentes). Por isso temos primeiro de alinhar o tronco para depois se poder respirar profundamente. Devemos também procurar alinhar a posição da bacia e dos ombros, e só depois utilizar a respiração.


  • Devemos compreender que o alinhamento nunca é total, todas as pessoas e todos os corpos são assimétricos e procurar aceitar o nosso “Eu”, tendo presente que podemos sempre fazer algo para diminuir o sofrimento nos casos em que esta condição é mais dolorosa. 
Jorge Ferreira