Mindfulness
significa prestar atenção, de propósito e sem julgamentos ao momento presente.
Este é um estado de atenção que pode ser mais facilmente aprendido através de
uma prática de meditação mas que pode (e deve) ser integrado na nossa vida
diária. Nos últimos anos este estado tem vindo a conhecer cada vez mais
popularidade à medida que a ciência vai descobrindo os seus benefícios e cada
vez mais profissionais – médicos, psicólogos e psiquiatras – o vão divulgando
como uma excelente forma de combater o stress e de lidar com os desafios na
nossa vida.
É um facto que são cada vez mais os desafios que precisamos de
enfrentar nas nossas vidas e também é um facto que cada vez existem mais
pessoas a sofrer com problemas relacionados com ansiedade, depressão e outras
perturbações. Então é natural que se procurem cada vez mais alternativas. E
existem também cada vez mais estudos a comprovar os benefícios do mindfulness,
ou atenção plena, em português, para uma vida mais feliz, mais saudável e mais
preenchedora.
Com o avanço que tem acontecido no campo das neurociências estas já vieram demonstrar que, uma prática regular de mindfulness, pode até contribuir para modificar algumas estruturas do cérebro relacionadas com a resposta de stress mas não só: parece que o mindfulness pode contribuir para um retardamento de alguns sinais comuns do envelhecimento ao nível cerebral, aumentar algumas zonas relacionadas com a criatividade e até com a inteligência. Estes estudos demonstram aquilo que já se sabia há algum tempo: que a meditação pode realmente tornar-nos mais saudáveis, felizes, criativos e até mais inteligentes.
Outra das grandes vantagens do midfulness que, em boa parte, deve
a sua popularidade ao trabalho de um médico dos E.U.A., Jon Kabat-Zinn, é que,
desde que este médico o começou a divulgar nos anos 70 que se tornou mais fácil
perceber que este é um estado ou uma prática acessível a qualquer pessoa, de
qualquer idade e condição social. Antes do importante trabalho de divulgação e
de investigação deste médico nesta área havia muito mais a noção de que a
prática da meditação era algo difícil ou exigente e que seria apenas acessível
a determinados grupos religiosos ou espirituais. Mas kabat-zinn deu um grande
contributo para demonstrar que para meditar não precisamos de estar ligados a
nenhuma tradição religiosa nem em nenhum tipo de retiro espiritual.
Para aplicarmos o mindfulness nas nossas vidas e para
colhermos os seus muitos e variados benefícios precisamos apenas de alguns
minutos de prática diária e de estarmos dispostos também a tentarmos estar
presentes na nossa vida diária, seja a trabalhar, a brincar com os nossos filhos
ou simplesmente no trânsito a conduzir.
Com esta prática percebemos também que a meditação não tem de ser
algo demasiado trabalhoso ou inacessível a pessoas mais agitadas ou com mentes
mais preenchidas, como tantas vezes se julga. Percebemos
que qualquer pessoa pode meditar e que não precisamos de parar os pensamentos,
como por vezes pensamos, para sentir todos os benefícios desta prática.
Benefícios do Mindfulness específicos para pais
Ser pai ou mãe é um dos maiores desafios que podemos enfrentar na
nossa vida adulta.
O midfulness é uma óptima ferramenta para lidar com esses desafios
porque, por um lado nos permite lidar da melhor forma com todo o stress que,
tantas vezes está associado a este processo. E, por outro lado, pode ser também
uma excelente ferramenta para criarmos um relacionamento com os nossos filhos
que nos permita sentir verdadeiramente realizados nesta relação e que nos
permita também perceber que podemos crescer juntamente com os nossos filhos e
aprender a criar relações mais felizes, harmoniosas em que seremos mais
facilmente capazes de transformar a nossa relação com eles numa fonte de prazer
e de gratificação para ambas as partes mas também num espaço onde eles possam
crescer de forma mais livre, feliz e harmoniosa.
Para criar uma boa relação com os nossos filhos, em
primeiro lugar, precisamos também de ter uma boa relação connosco. Precisamos de ter alguma capacidade de
reflectir sobre a nossa própria história e de dar algum significado às
experiências que vivemos. As investigações mostram que existe uma grande
probabilidade de repetirmos com os nossos filhos o tipo de experiências que vivemos
e de termos com eles o mesmo padrão de vinculação que tivemos com os nossos
pais, a menos que alguma coisa na nossa vida, nos permita tomar consciência de
tudo o que vivemos e encontrar algum tipo de significado para as nossas
experiências, mesmo as mais negativas.
Todos conhecemos histórias daqueles pais que, durante toda a
adolescência e início da idade adulta juraram nunca fazer com os filhos aquilo
que os seus pais fizeram mas que, assim que se tornam pais, acabam por repetir
exactamente os mesmos padrões. Por
certo houve também alturas em que todos nos sentimos a agir exactamente como os
nossos pais agiam connosco, ou pelo menos com bastante vontade de o fazer. Porque existem determinados padrões de
relacionamento e de vinculação que ficam estabelecidos na nossa infância, ficam
gravados na nossa memória implícita (que armazena todas as experiências
importantes da nossa vida e que influencia diariamente o nosso comportamento de
forma inconsciente, através da repetição de determinados padrões ou de
comportamentos automáticos e certos mecanismos de defesa.
Então, precisamos de encontrar na nossa vida formas de tomar
consciência destes padrões. O
mindfulness pode ser uma boa ferramenta para essa tomada de consciência, porque
nos permite um conhecimento mais profundo de quem somos e de como funcionamos
mas, mais importante talvez, pode ser também uma excelente forma de quebrar
esses padrões. Tem sido
demonstrado que uma prática de mindfulness pode ajudar, por exemplo, a quebrar
o ciclo da depressão crónica que é tão difícil de interromper, justamente
porque permite a criação de novos padrões de funcionamento, mesmo ao nível
cerebral.
Por outro lado a nossa presença, inteira, completa e livre
de julgamentos é o melhor presente que podemos dar aos nossos filhos mas também
a nós próprios. O mindfulness ensina-nos que podemos estar
connosco independentemente do nosso estado interno. Ensina-nos a ter uma
atitude de compaixão e de aceitação para connosco próprios que é fundamental
para a saúde mental e para nos sentirmos felizes e bem connosco mesmos. Esta
aceitação é mesmo a base da verdadeira auto-estima, de que tanto se fala hoje
em dia.
E, ao aprendermos a
estar bem connosco podemos aprender a estar bem também com os nossos filhos. E,
quando conseguimos estar verdadeiramente presentes na nossa relação com eles
podemos ver que tudo muda. A nossa presença, inteira e de corpo e alma é o
melhor presente que podemos dar aos nossos filhos. e, muitas vezes, esta
presença é mesmo suficiente para vermos desaparecer tantas coisas que nos
incomodavam, é suficiente para vermos a criança crescer, abrir-se e florescer
verdadeiramente á nossa frente. Quando somos capazes de estar presentes com os
nossos filhos, de verdade, sem julgamentos, sem preocupações, quando
conseguimos estar verdadeiramente presentes de coração mas também de cabeça, na
nossa relação com eles, estamos a dar-lhes liberdade de crescer, de se sentirem
seguros. Estamos a dizer-lhes que eles são importantes, que a sua vida é
importante para nós, estamos a dizer-lhes que eles valem a pena, que merecem
todo o nosso amor. E, quando fazemos isto é verdadeiramente extraordinário
perceber que, a partir daí, tudo se torna mais fácil, tudo passa a a fluir
muito mais facilmente. A partir dessa nossa presença, quando nos tornamos
capazes de criar para os nossos filhos um lugar seguro a partir do nosso
coração, a partir dessa nossa presença completa e inteira, desaparecem os
problemas de comportamento, as lutas de poder, as sessões de choro
interminável. Desaparecem os gritos, as ansiedades, os medos e as culpas.
Porque quando nos tornamos presentes com eles, para eles, estamos presentes
também para nós. E quando estamos presentes percebemos que aqui agora está tudo
bem, está tudo certo. E quando percebemos isto podemos descansar e, mais
importante ainda, podemos deixar que os nossos filhos descansem no nosso amor –
uma expressão de Gordon Neufeld que me faz todo o sentido.
E quando
permitimos que os nossos filhos descansem no nosso amor, quando lhes damos a
certeza de que o merecem e de ele está sempre presente, eles podem também
abandonar as suas lutas, ansiedades, medos, receios, agitações. Porque se sentem seguros na nossa
presença e aprendem assim eles próprios a estar presentes. E ensinar um filho a
estar presente, ensinar um filho que é seguro estar presente, ensinar que é
possível viver sem cair na armadilha da agitação permanente, da tristeza profunda
ou a ansiedade constante, é a melhor oferta que lhes podemos dar para crescerem
capazes de ser felizes e com segurança que de que podem ser quem são, em
qualquer situação por mais desafiadora que seja.
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