A Diabetes Mellitus é uma condição em que o pâncreas não funciona correctamente, afectando as células dos ilhéus de Langerhans (onde é produzida a insulina e o glucagon). Deste modo, a insulina produzida é insuficiente o que, por sua vez, altera o metabolismo, conduzindo a um aumento dos níveis de açúcar no sangue. Os rins não suportam tanta glicose no sangue e como tal passam a eliminá-la através da urina. Como consequência, para os seus gastos energéticos, o corpo começa a utilizar gordura em vez de glicose, o que leva, entre outras coisas, à produção de gases nocivos como é o caso da acetona.
Existem dois tipos de Diabetes Mellitus:
Tipo 1 – Este tipo, por vezes também chamado de diabetes juvenil (apesar de poder ocorrer em qualquer idade) e é mais comum durante a infância e a adolescência, apesar de se desconfiar que existem casos diagnosticados de diabetes tipo 2, que na realidade são do tipo 1(Kozak, 2007).
Nestes casos o pâncreas encontra-se danificado devido a um vírus. As células que produzem a insulina são destruídas, sendo necessário uma ajuda hormonal externa para regular o níveis de açúcares no sangue.
Tipo 2 – É o mais comum, cerca de 90% dos diabéticos encaixam-se neste tipo. Normalmente ocorre em pessoas com mais de 40 anos e com excesso de peso apesar de, devido a alimentação incorrecta e uma má qualidade de vida, começarem a surgir casos em pessoas cada vez mais novas, até mesmo em crianças (Kozak, 2007). Neste caso a insulina é produzida pelo corpo em quantidade insuficiente. Este tipo pode ser controlado através de uma dieta alimentar, de exercício físico e/ou medicação.
Consequências da Diabetes Mellitus:
No tipo 2 o que a pessoa faz tem um enorme impacto na forma como a doença evolui, apesar disto as consequências da doença no tipo 2 são idênticas à do tipo 1, por isso não devem ser desvalorizadas:
- Como Ali e Brar referem, a cegueira, falha do fígado, problemas cardíacos, alojamento de gordura nas paredes das artérias, amputação, aumento da probabilidade de paralisias, problemas neurológicos, impotência. os nervos periféricos nas pernas também podem ser danificados, conduzindo a dormência dos membros ou a sensações de ardor dolorosas, conhecidas como neuropatia diabética (Kozak, 2007).
Diz Sandra Kozak que, devido ao perigo de ataques cardíacos e tromboses em diabéticos, os factores de risco, como é o caso da pressão arterial e do colesterol, são, muitas vezes, atacados através de medicamentos em vez de se tentar promover uma mudança do estilo de vida.
Apesar das causas da doença ainda não serem totalmente identificadas, sabe-se que determinados factores podem contribuir para a sua evolução como é o caso: da hereditariedade, da comida, do stress, da obesidade, entre outros.
E é aqui que a prática de alguns exercícios do yoga pode ter uma acção positiva na estabilização da doença, em conjunto com outras acções como a dieta, a qualidade de vida, o exercício físico e a medicação. A diabetes em si não tem cura, mas diferentes estratégias têm-se demonstrado muito eficientes e garantido resultados muito positivos até na diminuição da medicação.
Num estudo efectuado num período de tempo reduzido de apenas 9 dias (Bijlani, et al. 2005), que consistiu na utilização de alguns exercícios de asana (alongamentos e exercícios de fortalecimento muscular), pranayama (exercícios respiratórios), relaxamento, meditação, técnicas de gestão de stress, nutrição, informação sobre a doença, e sessões de conselhos individuais, obteve resultados promissores, produzindo efeitos metabólicos positivos.
Diversos estudos que parecem comprovar esse efeito benéfico da prática de alguns exercícios do yoga na estabilização da diabetes, em particular do tipo 2, podem ser consultados em diferentes sitíos entre o quais: (Shankardevananda, 2002), ou em http://www.theyogainstitute.org/
De que forma é que o yoga actua?
Alguns exercícios do yoga ajudam a reduzir drasticamente os níveis de stress, sabendo que o stress contribui para a secrecção das denominadas “hormonas de stress” (ex: adrenalina e cortisol) que, por sua vez, provocam um aumento do valor da glicose no sangue. Como Bijlani aponta, esta excessiva activação do S.N. Simpático, associada a estados de alerta e tensão, pode ser travada através das técnicas de relaxamento do yoga (Vempati and Telles, 2002), conduzindo a uma melhor tolerância à glicose (Surwit and Feinglos, 1983).
O glucagon (que contribui para o aumento da glicose no sangue), também está dependente dos níveis de stress, reduzindo-os a secrecção de glucagon tende a diminuir provocando uma melhor acção da insulina (Chandratreya ver http://www.yogapoint.com/).
O relaxamento muscular também origina um aumento da irrigação sanguínea nos músculos, intensificando a recepção de glicose pelos mesmos, reduzindo os níveis desta no sangue.
Elevados níveis de cortisol contribuem também para a acumulação de gordura na cintura abdominal, originando uma resistência à insulina, aumentando muito o risco de se ter um ataque de coração. A prática de alguns exercícios de yoga também pode ter efeitos positivos na perda de peso (ver artigo: http://psiyoga.blogspot.com/2008/06/yogaterapia-e-excesso-de-peso-para.html).
Sabendo-se que a diabetes pode provocar problemas ao nível do sistema nervoso autónomo, que controla vasos sanguíneos e vários orgãos no corpo, a prática de alguns exercícios de yoga pode ajudar ao funcionamento do sistema nervoso autónomo, melhorando a irrigação sanguínea em particular nas extremidades do corpo, evitando o aparecimento de úlceras da pele nos pés.
Kozak refere ainda a importância da correcção postural, pois permite aliviar ou reequilibrar o corpo, ajudando a distribuir o peso deste pela totalidade da superfície da planta dos pés, diminuindo dessa forma a pressão excessiva em alguns pontos.
Alguns asanas demonstram-se muito positivos pela massagem que provocam nos orgãos abdominais, aumentando desta forma a eficiência desses mesmos orgãos.
Com a prática também pode ocorrer uma redução dos níveis de açúcar no sangue, especialmente com a prática de determinados asanas.
Algumas técnicas produzem efeitos muito positivos quer na diminuição da pressão arterial, quer nos níveis de colesterol. Psicologicamente a prática revela-se muito positiva num aumento de força de vontade, maior bem estar, mais optimismo, maior concentração e numa redução acentuada dos níveis de stress. Sabe-se hoje em dia que os aspectos psicológicos têm um papel fundamental em qualquer tipo de doença e que estes podem contribuir decisivamente para uma melhoria ou, pelo contrário, para um agravamento da condição.
Contra – indicações e cuidados a ter
-Com a prática é possível que por vezes ocorra uma diminuição acentuada dos níveis de glicose causando uma reacção de hipoglicémia (Kozak, 2007). Tanto as práticas intensas, como as práticas à noite também são desaconselhadas, principalmente para o tipo 1, pois podem facilitar o aparecimento desses episódios de hipoglicémia durante o sono.
-É totalmente desaconselhado a interrupção da medicação sem supervisão médica, sabendo-se no entanto que, com a prática, pode ocorrer uma mudança na quantidade de medicação a usar.
-As práticas vigorosas são desaconselhadas, em particular para os diabéticos do tipo1, pois o risco de hipoglicémia provocada pelo esforço é maior neste tipo da diabetes. Estas práticas vigorosas, em especial no tipo 1, podem provocar cetoacidose, marcada por valores muito elevados de açúcar no sangue (acima de 300), por desidratação, por um aumento de ácido no sangue, que tem como sinais a sede, fraqueza, letargia, náusea e confusão (Kozak, 2007).
-Devem-se também evitar locais muito quentes para a prática.
-Uma das indicações habituais para os praticantes de yoga é a de não comer 1 a 2 horas antes da prática. Mas, neste caso, é aconselhado o contrário: não se deve fazer uma prática sem comer qualquer coisa antes, pois os níveis de açúcar no sangue podem descer abruptamente.
-Como Sandra Kozak refere, determinados exercícios no yoga podem aumentar a circulação sanguínea em determinados orgãos abdominais, como é o caso do AgniSar (uma massagem efectuada pelo próprio, através de contracções intensas dos músculos abdominais, ver Satyananda, 1999), alterando desta forma a dosagem habitual de insulina injectável. Este aspecto reforça a importância de se estabelecer uma rotina de prática, para se saber como o corpo irá responder a esta, e um acompanhamento médico.
-Durante a prática é preciso dar atenção aos asanas invertidos e asanas que aumentem a pressão sanguínea nos olhos, devido às fragilidades decorrentes da doença. Uma consulta ao oftalmologista antes do início da prática de yoga pode ser útil.
-Como consequência das neuropatias periféricas (avaliando sempre caso a caso), é recomendável evitar asanas que possam provocar lesões, como saltos, movimentos rápidos ou descontrolados e, mesmo os asanas de equilíbrio, devem ser realizados com o suporte de uma parede (Kozak, 2007). A mudança de uma posição para outra deve sempre ser efectuada de uma forma lenta e controlada, tendo em atenção à possível falta de equilíbrio normalmente associada à doença.
Exercícios indicados
Ter em atenção que este exercícios devem ser realizados com a supervisão de um profissional competente, pois muitos destes exercícios têm contra-indicações e devem ser efectuados correctamente. Neste artigo não nos debruçamos sobre a forma correcta de os executar.
-Os exercícios de libertação das articulações, como é o caso da série de Pawanmuktasana (Shankardevananda, 2002) têm um efeito positivo ao nível da circulação sanguínea, em particular nas extremidades, e no funcionamento do Sistema Nervoso Autónomo.
-Como Ali e Brar referem, também se pode aumentar o metabolismo através de exercícios de yoga relativamente vigorosos, e a irrigação sanguínea para o pâncreas através de vários exercícios, como os seguintes:
-Agnisar - massaja o pâncreas, que se situa na parte superior do abdómen, e melhora a circulação nos vasos sanguíneos, ajudando a remover impurezas e toxinas (Ali, 2002).
-Os asanas de flexão anterior, com o efeito de compressão que exercem sobre as vísceras abdominais, aumentam a circulação sanguínea nesses orgãos, facilitando a secreção dos sucos digestivos facilitando o peristaltismo.
-Para Ali e Brar, nos asanas de torção, que incidem sobre a parte superior da coluna vertebral e a parte superior do tracto digestivo, o pâncreas e o fígado são descongestionados, o que é positivo para quem tem problemas digestivos, e a estimulação directa do pâncreas pode encorajar a uma libertação de insulina.
Outros exemplos de exercícios particularmente recomendados para a Diabetes:
Crocodilo - Makarasansadeitados sobre o estômago
O asana do arco – Dhanurasana
O asana da lua – Shanshankasana - sentir o estômago conta as coxas
O asana da Cobra - Bhujanga asana
Movimentos de libertação do pescoço
Shavasana – relaxamento
Nadi Shodhana Pranayama - Respirações Alternadas
A respiração da abelha - Bhramari
Respiração diafragmática ou inferior
Meditação
Jorge Ferreira
Referências e Fontes
Ali, and Brar, J. (2002) Therapeutic Yoga - Diabetes pp 59 – 63 London
Bijlani, R. et al (2005) A Brief But Comprehensive Lifestyle Education Program Based on Yoga reduces Risk Factors for Cardiovascular diseases and Diabetes Mellitus . The journal of Alternative and Complementary Medicine Volume 11, Number 2, 2005 267-274
Kozak, S. (2007) Diabetes chapter 16 - em Yoga as Medicine The Yogic Prescription for Health and Healing. MacCall, (2007) Bantam Books New York T
Monro et al (1990). Yoga for Common Ailments. Simon e Schuster.
Satyananda, Swami (1999), Asana, Pranayama, Mudra e Bandha. Bihar School of Yoga, India.
Shankardevananda, S. (2002) Yogic Management of Asthma and Diabetes. Yoga Publications, Munger, Bihar, India
http://www.yogapoint.com
http://www.theholisticcare.com/cure%20diseases/Diabetes.htm
http://www.theyogainstitute.org/
Referências e Fontes
Ali, and Brar, J. (2002) Therapeutic Yoga - Diabetes pp 59 – 63 London
Bijlani, R. et al (2005) A Brief But Comprehensive Lifestyle Education Program Based on Yoga reduces Risk Factors for Cardiovascular diseases and Diabetes Mellitus . The journal of Alternative and Complementary Medicine Volume 11, Number 2, 2005 267-274
Kozak, S. (2007) Diabetes chapter 16 - em Yoga as Medicine The Yogic Prescription for Health and Healing. MacCall, (2007) Bantam Books New York T
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Satyananda, Swami (1999), Asana, Pranayama, Mudra e Bandha. Bihar School of Yoga, India.
Shankardevananda, S. (2002) Yogic Management of Asthma and Diabetes. Yoga Publications, Munger, Bihar, India
http://www.yogapoint.com
http://www.theholisticcare.com/cure%20diseases/Diabetes.htm
http://www.theyogainstitute.org/
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