sexta-feira, 20 de junho de 2008

Yoga Terapia e Excesso de Peso


Para perder peso eficazmente e de uma forma saudável há que levar em conta todos os factores de ordem física, como o que se come, quanto se come e como se come, mas também vários factores de ordem psicológica, como o porque é que se come.

Na maior parte dos casos o excesso de peso está ligado a um estilo de vida sedentário, em que se faz muito pouco ou nenhum exercício e que não é seguida uma alimentação saudável do ponto de vista dos alimentos escolhidos.


Muitas vezes comer demais também está associado a estados de tensão e ansiedade. Alguns estudos mostram que a gordura, sobretudo ao nível abdominal (que é também a mais prejudicial para o sistema cardiovascular) está muitas vezes relacionada com elevados níveis de stress.

Fazer uma dieta em que se cortam apenas alguns alimentos, ou em que se tenta comer menos para restringir a quantidade de calorias ingerida diariamente pode parecer a melhor e a única solução para se emagrecer. Mas, a verdade, é que sabemos hoje em dia que isto não funciona tão bem como à primeira vista poderia parecer. Primeiro porque muitas vezes se fazem dietas e, mesmo que se consiga perder algum peso, a tendência é para continuar a haver uma insatisfação com a aparência e com o corpo, depois porque fazer uma dieta restringido alguns alimentos e diminuindo a quantidade de outros é, quase sempre, algo bastante penoso e difícil de manter durante longos períodos de tempo o que faz com que a pessoa acabe por desistir e volte a comer de tudo. Muitas vezes ainda em maiores quantidades para recuperar o tempo perdido. Voltando assim a ganhar todo o peso que perdeu, geralmente com algum extra para compensar.

Há já muitos estudos que demonstram que, as pessoas que fazem este tipo de dietas, a que se chamam vulgarmente dietas iô-iô (justamente porque fazem com que as pessoas entrem num ciclo contínuo de emagrecimento e engorda), são as que correm mais riscos de saúde. De facto, os estudos realizados comprovam que, para a saúde são mais perigosas as grandes oscilações de peso, ocorridas repetidamente e em curtos espaços de tempo, do que manter a obesidade ao longo de vários anos.

Outro factor de risco para quem quer perder peso, são as dietas milagrosas em que a pessoa perde peso muito depressa. Contrariamente aos desejos de quem quer perder peso, há hoje em dia um consenso entre os vários especialistas desta área que diz que a perda de peso ideal, para não prejudicar o organismo, se situa entre meio quilo e um quilo por semana, o que dá apenas, no máximo, 4 quilos por mês. Claro que isto pode parecer muito pouco, especialmente para as pessoas obesas que queiram perder por exemplo 40kg (e que, assim, precisarão de pelo menos 10 meses) mas é a forma mais saudável, segura e eficaz de se emagrecer.

Para se ter certeza de que este emagrecimento não será seguido por um novo ganho de peso é muito importante considerar vários factores psicológicos ligados à alimentação. De facto, mais do que algo que nos mantém fisicamente vivos e activos, a alimentação tem também uma grande ligação à nossa vida emocional. É através da amamentação, ou do biberon, que, pela primeira vez, aprendemos o que é estar em contacto com outro ser humano. É através da alimentação que se estabelecem os primeiros vínculos entre o bebé e a sua mãe. Para além de alimentar o nosso corpo, estes primeiros momentos de vinculação precoce também alimentam os primeiros instantes da nossa vida emocional. Por isso não é de estranhar que a alimentação passe a desempenhar um papel tão importante em toda a nossa vida futura.


Por vezes, por insegurança dos pais, sempre que o bebé chora há tendência para o alimentar julgando que terá fome. E assim fica estabelecida, de certa forma, a relação entre o desconforto e a comida, que conforta.

Para além desta ligação, que pode ficar estabelecida na infância, também é verdade que um estômago bem cheio acaba por concentrar em si uma boa parte da circulação sanguínea (necessária para que a digestão se faça) o que diminui a activação do cérebro e do Sistema Nervoso Simpático que, geralmente, se encontram sobre-activados, durante os estados de stress e tensão. Isto leva a que a pessoa possa, finalmente, diminuir os seus níveis de alerta constante e tenha algumas sensações de relaxamento.


Muitas vezes também comemos demais porque há um certo desligar do nosso corpo, uma certa dificuldade em ouvir os sinais que ele nos transmite. Muitas pessoas obesas dizem que comem muito porque nunca se sentem cheias. Este nunca se sentir cheio é revelador de um certo distanciamento do próprio corpo, dos sinais que este nos dá. Há aqui uma incapacidade da pessoa estar consigo mesma, de se ouvir, de reconhecer, aceitar e integrar de forma saudável o corpo e todos os sinais que este transmite. Aqui o papel da Yoga Terapia é devolver à pessoa o bem-estar consigo mesma. O yoga ajuda a pessoa a voltar a estar em sintonia com o seu corpo e consigo própria.

O corpo humano é sábio, é concebido para funcionar de forma eficaz e eficiente em todas as situações, por isso é inconcebível que o estomâgo não transmita ao cérebro os sinais de que está cheio, de que já não consegue comer mais. Mas é perfeitamente concebível que nós nos recusemos a ouvir esses sinais.

De acordo com Ken Wilber o ser humano vive num estado de distanciamento do corpo. Segundo este autor, quando somos crianças, há uma identificação com todo o corpo e não existe grande distinção entre sentimentos, perecpções e pensamentos. Mas, a partir dos 3, 4 anos passamos a identificar o nosso eu muito mais com a zona da cabeça. Isto é visível nas expressões o “meu braço”, “a minha perna”, “o meu corpo”. Quando perguntamos a uma criança desta idade onde está o seu eu, a sua identidade, ela aponta para a cabeça.

A nossa evolução enquanto pessoas passa pela integração do corpo com o eu, que, segundo Wilber, é a meta de todas a psicoterapias humanistas.

Rogers foi um conhecido psicólogo humanista, para quem o desenvolvimento humano culmina no surgimento de uma pessoa plenamente funcional: que está aberta e receptiva à totalidade da sua experiência organísmica, capaz de integrar e aceitar todas as percepções e sensações que o corpo lhe transmite sobre o exterior mas também do seu mundo interior.

Ora isto não acontece nem no obeso, nem na maior parte de nós. Para o obeso ter fome pode ser uma experiência extremamente desconfortável, tanto que é preciso evitá-la a qualquer custo, comendo permanentemente para que esta nunca se faça sentir.

Daubenmeier (2005) fez um estudo em que concluiu que as mulheres que praticavam yoga com mais frequência tinham uma melhor relação com o seu corpo e, por isso, uma probabilidade mais baixa de vir a sofrer de distúrbios alimentares, quando comparadas com as mulheres que iam mais frequentemente ao ginásio.

Para além destes aspectos psicológicos fudamentais para todo o processo de emagrecimento, a prática do asana (posições do yoga) pode também ajudar a estimular todo o sistema digestivo, para uma melhor absorção e assimilação dos alimentos. Influenciando também todo o metabolismo para que funcione mais eficazmente no que toca à eliminação dos excessos. Pode ainda ajudar a tonificar os músculos e, algumas sequências feitas de forma mais energética, podem também ajudar a perder calorias.

A yogaterapia pode ainda ajudar-nos a lidar da melhor forma com o stress e a ansiedade, ajudando-nos a encontrar soluções alternativas nos casos em que são estes que conduzem a um comer em excesso.

Há alguns aspectos importantes a ter em conta para quem quer emagrecer de forma saudável e permanente:

1. Não encarar o processo de emagrecimento como apenas mais uma dieta. È preciso que este seja mesmo uma forma de vida, é preciso ter a noção de que toda a nossa relação connosco mesmos, com o mundo e, sobretudo com a comida, terá que se alterar.

2. Não querer perder muito peso demasiado depressa.

3. Não desanimar mesmo que no ínicio nos pareça que não estamos a perder tanto peso quanto desejávamos. Todas as mudanças verdadeiras e definitivas levam o seu tempo a acontecer.

4. Nunca comer ao mesmo tempo que fazermos outra actividade, como ver televisão ou ler um livro. Quando comemos devemos estar só a comer.

5. Fazer um diário alimentar. Muitas vezes comemos demais sem termos noção disso.

6. Nunca comer menos de duas horas antes de deitar. Tudo o que comermos perto da hora de dormir engordará muito mais, porque já não vamos gastar aquelas calorias que ingerimos e, durante o sono o corpo acabará por assimilá-las.

7. Fazer jantares mais leves que o almoço.

8. Andar a pé. Andar a pé principalmente depois do jantar se sentimos que comemos demais.

9. Tomar sempre um bom pequeno almoço. Os estudos demonstram que quem toma um bom pequeno almoço tem menos probabilidades de sentir fome ao longo do dia.

10. Não ir ao supermercado de estômago vazio. Porque acabamos sempre por comprar muito mais comida do que aquela que realmente precisamos e somos mais facilmente atraídos por alimentos hipercalóricos.

11. Optar sempre por produtos integrais no caso dos cereais, do pão e das massas.

12. Procure diminuir as calorias que ingere diariamente, optando por alimentos mais saudáveis e menos calóricos, mas sem cortar todos os alimentos que lhe dão prazer.

Laura Sanches

BIBLIOGRAFIA

Daubenmeir, J. (2005), The Relationship of Yoga, Body Awareness, and Body Responsiveness to Self-objectification and Disordered Eating. Psychology of Women Quartely, Vol. (29), 207-219

Cooper, Fairburn and Hawker (2003), Cognitive-Behavioural Treatment for Obesity: a Clinician's Guide. Guilford Publications

Rogers, C. (2003), Client Centred Therapy.

Rogers, C. (2004), On Becoming a Person.

Wilber, K. (1977), O Espectro da Consciência. Cultrix.

Wilber, K. (2000), Sex, Ecology and Spirituality: the spirit of evolution. Shambala.

Wilber, K. (1996), The Atman Project: a transpersonal view of human development. Quest Books

1 comentário:

Anónimo disse...

olá
gostaria de saber se quem escreve essas publicaçoes também é psicologo.
estou montando um blog e gostaria muito de uma matéria sobre psiocologia e yoga.
obrigada
paula
saudavalmentesantos@gmail.com